Em um ambiente em que a reputação das organizações é formada, e colocada à prova, de forma quase instantânea, a comunicação estratégica ocupa um lugar central, ainda que muitas vezes invisível. Invisível porque seus efeitos não são, à primeira vista, mensuráveis em métricas diretas, e central porque é justamente ela que sustenta a coerência entre o que uma instituição declara ser e o que o mundo percebe dela. Não há reputação sólida construída apenas com boas intenções, tampouco apenas com bons produtos ou serviços, pois ela se ancora, antes de tudo, na articulação mediada da linguagem e do comportamento.
Desde a teoria dos stakeholders de R. Edward Freeman, é sabido que a sobrevivência e o sucesso das organizações dependem da qualidade das relações estabelecidas com todos os públicos envolvidos, e não apenas com investidores ou consumidores. Dentro dessa lógica, a comunicação deixa de ser um canal reativo e passa a ser um eixo estrutural da governança, articulando sentido entre partes, traduzindo valores institucionais em práticas narrativas e preservando vínculos em meio à complexidade e à constante transformação do mundo.
A construção da reputação como ativo intangível foi amplamente aprofundada por estudiosos do meio, definindo-a na instância corporativa como a percepção coletiva sobre o caráter e a competência de uma organização, formada a partir da consistência entre identidade, imagem e desempenho. Isso exige, evidentemente, uma comunicação que não se limite à transmissão de mensagens, mas que opere estrategicamente como um sistema vivo, em constante diálogo com os ambientes interno e externo.
Ao longo dos mais de 25 anos em que atuo com comunicação, pude acompanhar de perto como líderes e instituições podem subestimar, ou descobrir tardiamente, o papel da comunicação estratégica como agente de confiança. Já estive ao lado de instituições com crises éticas, de empresas familiares em transições delicadas, de gestores tentando reverter desinformação em tempo real. Em todos esses contextos, a diferença não estava apenas no que se dizia, mas em como e quando se dizia e, especialmente, na necessidade de respaldar o discurso com atitudes coerentes. É nesse ponto que a comunicação deixa de ser ferramenta e passa a ser estrutura, e é nesse momento, mais do que em qualquer outro, que comunicar bem não representa apenas falar com clareza, mas garantir relevância, empatia e coerência em cada gesto, discurso e até no silêncio.
Mas é importante destacar que a comunicação estratégica não atua somente nos momentos de crise, devendo anteceder o problema e permanecer depois que ele passa. Seu papel é organizar e reorganizar os significados para evitar os ruídos e sustentar a reputação como um processo contínuo de entrega e percepção de valor.
O grande desafio é que, por ser invisível aos olhos de quem apenas valoriza resultados imediatos, a comunicação estratégica segue subestimada em muitos espaços decisórios. E quando quando tratada como algo periférico, improvisado ou subordinado a preferências pessoais, ela acaba por perder força institucional e também a chance de construir legitimidade, engajamento e confiança, que são agregadores fundamentais em tempos de alta exposição, aceleração digital e polarização de discursos.
As organizações que atravessam cenários adversos com menos danos à imagem pública têm, quase sempre, um ponto em comum: investem em estruturas sólidas de comunicação, com profissionais qualificados, processos maduros e escuta ativa. Elas compreendem que reputação é um bem frágil que não se compra, não se acelera, e muito menos se manipula. Ela é conquistada pela constância entre o que se promete e o que se entrega, comunicada com consistência, inteligência e respeito à complexidade das relações humanas.
Nas analogias que tanto gosto de ilustrar, vejo que assim como os alicerces de uma construção não aparecem nas fotografias, mas sustentam tudo o que está acima deles, a comunicação estratégica pode ser entendida como a que opera fundamentalmente nos bastidores da reputação. Sem ela, o discurso institucional se esvazia, a imagem se torna vulnerável e a confiança se desfaz ao menor sinal de incoerência.
Erika Baruco