A era da autenticidade fabricada

Esta semana estive em um podcast onde fui questionada sobre a autenticidade e a sua relação com o engajamento nas mídias sociais, um tema que, confesso, tem me incomodado há um tempo.

A autenticidade sempre foi reconhecida como um diferencial de impacto, mas, paradoxalmente, a sua busca massiva e nada original por padrões replicados, fórmulas prontas de “originalidade” e uma estética previsível que se vende como espontânea, tem diluído o seu valor. Ou seja, a autenticidade foi transformada em estratégia, um modelo de sucesso, desvirtuando a genuinidade de indivíduos e marcas.

Criadores de conteúdo, empresas e influenciadores perceberam que o público valoriza o que é real, ou pelo menos parece ser, e passaram a reproduzir essa “realidade” como um método. O que vemos a partir dessa estratégia é um celeiro de iguais, onde todos soam, gesticulam e se posicionam de forma semelhante, fazendo da autenticidade um formato, não uma essência.

Redes sociais como TikTok e Instagram são laboratórios desse fenômeno, com uma estética amplamente disseminada sobre o que é “real”: vídeos caseiros com iluminação controladamente “natural”, erros de fala estrategicamente mantidos para parecerem espontâneos, falas abruptas, intensas e emocionadas, e até legendas que imitam a escrita descuidada, mas que são cuidadosamente pensadas para gerar engajamento.

Grandes empresas também passaram a se comunicar com o público como se fossem criadores independentes, assumindo um tom descolado, utilizando memes e simulando diálogos casuais, ainda que por trás dessas interações haja equipes de marketing altamente treinadas. O público, por sua vez, aceita esse jogo, muitas vezes sem perceber que está interagindo com uma representação da autenticidade, e não com a autenticidade em si.

O problema da cópia do autêntico é que como tudo que é replicado à exaustão, perde a sua força. Quando todos utilizam as mesmas estratégias para parecerem únicos, o resultado é a mesmice, fazendo com que o que deveria se destacar se torne mais um na multidão.
Temos nesse cenário uma outra importante implicação: a padronização da espontaneidade que se torna previsível e limita a criatividade pelo que já foi validado pelo algoritmo e pelo mercado, faz com que conteúdos de criadores que não seguem esse padrão sejam descartados em suas entregas.

Mas será que temos luz no fim desse túnel? Em um primeiro plano já vemos um público despertando, percebendo a repetição dos padrões e deixando de cair como antes nessa estrutura de comunicação montada.

À medida que essa consciência aumenta, deveremos ver rótulos vazios perderem engajamento, o que deverá voltar a centrar os espaços para aqueles que se projetam com o que realmente faz sentido em seu discurso.

Nessa esteira, marcas e criadores que desejarem se destacar e, especialmente, se manter, precisarão ir além para transmitir valores em identidades únicas e verdadeiramente próprias.

Erika Baruco.

A comunicação como espelho da liderança ética

A comunicação como espelho da liderança ética

Se tem algo que sempre defendo, é que liderança não se resume ao que ela comunica, mas às decisões que ela toma frente ao que comunica. Mas é inegável que a forma como ela comunica impacta nos resultados das decisões que comunica.

E quando falamos de forma, não podemos separar um elemento de extrema importância e que se revela em cada escolha de palavra, cada silêncio e cada gesto público ou privado de quem está no comando: a ética.

Isso significa que é na prática da liderança, especialmente no lidar com as oposições que ela encontra pelo caminho, que é posto à mesa a coerência sobre seus discursos de virtuosidade e humanidade.

Líderes que comunicam com respeito e responsabilidade não apenas preservam suas reputações, mas ajudam a estabilizar ambientes tensionados e a proteger as instituições que representam.

Nunca é demais lembrar que o impacto dessas práticas se dá em diferentes esferas, pois um líder que fala não está apenas verbalizando ideias, ele está moldando cultura, determinando limites e influenciando o comportamento de todos ao redor. Se ataca, ensina a atacar, se escuta, autoriza a escuta, se cala diante da injustiça, compactua com ela.

E aqui eu abro um parêntese para trazer um dado importante sobre um sentimento comum que tem se apresentado em relação às lideranças na atualidade. Segundo o relatório Edelman Trust Barometer, publicado em janeiro deste ano, 7 em cada 10 pessoas acreditam que líderes políticos, empresariais, e até jornalistas, tendem a enganar o público, sejam expondo informações que sabem ser falsas ou exagerando em suas apresentações.

Esses dados revelam a percepção mais clara de uma parcela da população em relação ao que pode estar beirando à superfície de lideranças públicas, em um cenário em que certamente se diferencia quem se mostra com integridade e verdade. Líderes que conseguem se manter firmes em suas posições sem recorrer à destruição do outro. Líderes que sabem promover um bom debate, mesmo em campos opostos. Líderes que sustentam argumentações maduras, não agressões travestidas de retórica.

Um belo exemplo de liderança que não canso de citar sempre que tenho a oportunidade, é o da Jacinda Ardern, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, que se destacou mundialmente pela maneira como comunicava as suas pautas. Ao enfrentar oposições, crises de segurança e decisões polêmicas, ela manteve um padrão comunicacional ético, direto e humano. Ganhou credibilidade não pela unanimidade, mas pela integridade, até mesmo quando anunciou a sua renúncia ao cargo.

No cotidiano de lideranças corporativas, institucionais ou públicas, o mesmo princípio se aplica, revelando que quem se comunica com ética, lidera com autoridade.

Definitivamente, não basta mais ser tecnicamente competente, pois a solidez da liderança é julgada pela maneira como ela se apresenta, especialmente nos momentos em que ela é confrontada, e por sua habilidade de pacificar no lugar de guerrilhar, de curar no lugar de ferir, e de proteger o que e quem ela deve representar.

Erika Baruco.